Grotta

Erros comuns travam sucesso profissional

Práticas cotidianas podem barrar o crescimento; fazer autoanálise e reconhecer as falhas são pontos essenciais para retomar a carreira

Larissa Féria
Caio Hornstein
ESPECIAL PARA O ESTADO

A carreira de um profissional parece estar no caminho certo quando, de repente, tudo começa a dar errado. O currículo é sólido, a formação acadêmica é excelente, mas a evolução não é a esperada. Embora toda trajetória profissional tenha altos e baixos, às vezes, é preciso fazer uma autoanálise para entender o que travou o seu desenvolvimento. Consultores em planejamento de carreiras apontam os erros mais comuns.

O principal deles é ficar à mercê da maré e não saber com clareza seus objetivos em relação à carreira. Quando isso acontece, o profissional pode ser levado para um caminho que não desejava. “Para ter sucesso é preciso definir o que quer alcançar, para saber como chegar lá: se é preciso investir num curso, mudar de emprego ou até mesmo de profissão”, afirma Luiz Visconte, sócio-gerente da consultoria Vicky Block Associados.

Após 10 anos trabalhando em multinacionais do setor farmacêutico, o gerente de produção Tarcísio Cantos de Melo, 32, estava insatisfeito com o rumo que a sua carreira tinha levado. Formado em administração e com especialização em marketing e economia, ele se sentia desmotivado na empresa onde trabalhava. “Na faculdade, eu fiz estágio em uma multinacional de laboratório farmacêutico. Depois continuei atuando em multinacionais do setor. Não foi uma escolha minha trabalhar nesse tipo de empresa. Fui sendo levado”, conta.

Por indicação de sua sogra, Melo decidiu procurar uma empresa de gestão de carreira neste ano. Durante a consultoria, ele descobriu que não tinha perfil para trabalhar em grandes empresas, organizadas, com processos já estruturados. “Entendi que deveria buscar uma empresa menor, que precisasse de funcionários com perfil mais generalista, com espaço para dar ideias e sugestões”, conta.

 

Foram cinco meses de trabalho, até que no início deste mês ele se transferiu para uma empresa fabricante de lentes de contato. “Apesar de também ser uma multinacional, a operação no Brasil ainda é nova. Em tão pouco tempo de empresa, eu já tive oportunidade de dar ideias que estão sendo implementadas. Estou muito feliz”, conta Melo.
Profissionais que optam por carreiras generalistas, sem um foco específico de atuação, costumam enfrentar dificuldades em um mercado de trabalho que exige, cada vez mais, especializações. Se, no começo da carreira, é positivo experimentar áreas diferentes, a certa altura passa a ser fundamental estabelecer um foco profissional e se especializar. “Algumas pessoas navegam por várias áreas e não têm profundidade em nada. Por isso, acabam perdendo várias oportunidades”, analisa Rafael Souto, CEO da Produtive, empresa de outplacement e planejamento de carreira.

Assim, pular de galho em galho “atraídos” por novos desafios ou um salário melhor pode atrapalhar a carreira no futuro. Passar por diferentes empresas sem entregar resultados torna o currículo pobre. “Esse tipo de pessoa vai para uma entrevista e não tem o que contar, porque nunca termina nada. Ela é guiada pelas oportunidades que aparecem e não percebe o impacto disso na carreira”, diz Souto.

“Ficar 20 anos numa empresa não significa se acomodar. Uma coisa é ficar 20 anos na mesma função, fazendo a mesma coisa. É preciso observar se esse profissional foi valorizado nesses 20 anos, se ele cresceu na empresa”, alega Villela da Matta, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching.

 

Conhecer a dinâmica de trabalho – quem são as pessoas com poder, quem são influenciadores, qual é a situação da empresa – é muito importante para não ficar deslocado. Ao mesmo tempo, a incapacidade de trabalhar em equipe também prejudica a evolução profissional. Saber trabalhar em conjunto é característica muito valorizada no ambiente corporativo. “Pensar somente nos próprios objetivos, sem valorizar o trabalho dos colegas, pode manchar a imagem de um profissional dentro de uma empresa”, comenta Souto.

Segundo ele, para triunfar em uma empresa, não basta entregar resultados. É preciso estabelecer alianças com os colegas de trabalho. “Num ambiente corporativo, ser diplomático e saber se relacionar com todos é muito importante. Não ter habilidade política pode ser fatal”, acrescenta Visconte.

Reconhecer erros. Estar aberto a receber críticas pode ajudar a entender o que está fazendo de errado. Seu chefe, colegas de trabalho e até mesmo familiares e amigos são ótimas fontes para descrever o erro que você não consegue enxergar. “A incapacidade de receber feedback é um dos principais erros que atrapalham a carreira. Ao ouvir e entender o que é esperado, fica mais fácil implementar mudanças”, afirma da Matta.

Ao ficar na defensiva e não reconhecer os próprios erros, o profissional acaba se “vitimizando” ao isentar-se de assumir a responsabilidade. “Ele sempre tem uma resposta na ponta da língua para justificar o mau êxito. Sempre diz que a culpa foi do outro, do cliente ou da falta de recurso. Ao não assumir a culpa, deixa de aprender e executar a tarefa que lhe foi dada”, argumenta da Matta.

Falta de atualização dificulta crescimento

Muitas vezes, o profissional não se dá conta de que não consegue evoluir por falta de atualização. Falar inglês e ter MBA hoje em dia já é considerado commodities por muitos avaliadores e áreas de recursos humanos em geral.
Investir em cursos que são valorizados pelo mercado podem fazer a diferença, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, Villela da Matta. “Cursos de coaching e de desenvolvimento de competência estão na moda. Se o profissional não fizer coisas diferentes, ele será tratado como igual, e pode perder uma promoção, por exemplo”, afirma.

Para da Matta, o profissional não deve esperar que a empresa invista nele, e sim reservar parte de seu salário para o autodesenvolvimento. “É preciso pensar que você é uma empresa e tem de se desenvolver”, argumenta ele.
Seguindo essa lógica, prossegue o consultor, se estiver insatisfeito e querendo mudar de ares, além de acionar a sua rede de contatos, a proatividade conta muitos pontos.

“Vale selecionar as dez empresas onde a pessoa gostaria de trabalhar e ir atrás delas”, completa da Matta.
Além da falta de qualificação, vale a pena o profissional avaliar se ele conseguindo entregar o que é esperado dele.
Produtividade. A falta de produtividade é um problema comum nas corporações, lembram consultores. Prometer algo e não cumprir pode ser visto como sinal de desorganização e falta de comprometimento. Se for inevitável entregar uma tarefa, tente negociar um prazo maior com antecedência.

Um dos motivos apontados pelos especialistas para a falta de produtividade é o tempo gasto nas redes sociais. Alguns funcionários perdem horas atualizando seu perfil nas redes.
“É necessário tomar cuidado para não exceder o razoável. Ficar muitas horas ligado nas redes sociais, significa que você não está prestando muita atenção no seu trabalho”, afirma Luiz Visconte, da consultoria Vicky Block Associados.
Também deve-se ter cuidado com o conteúdo publicado na web. “Postar comentários negativos sobre o chefe, a empresa ou um colega de trabalho pode ser fatal”, finaliza Visconte. /L.F.

 

Fonte: Estadão

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